FUTEBOL OLÍMPICO – UMA BREVE HISTÓRIA
Por Marcelo Abduleditor do www.blogdoabdul.wordpress.com
Vamos recordar histórias do maior esporte do mundo nas Olimpíadas. Veremos que o futebol nos jogos teve em sua história o mesmo início promissor como na Copa do Mundo, mas ao longo do tempo se desviou por uma linha paralela totalmente diferente das disputas do esporte mais apaixonante do planeta.
1900 – O início
Somente em 1908 em Londres, o futebol foi incluído como esporte olímpico e o primeiro campeão foi a Grã-Bretanha que derrotou a Dinamarca por 2 x 0. Em 1912, em Estocolmo, britânicos e dinamarqueses repetiram a final e os atletas da terra da rainha se sagraram bicampeões pelo placar de 4 x 2. Depois de mais algumas participações, os britânicos não puderam mais participar do torneio olímpico de futebol. O COI não aceitava a participação de seleções regionais (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) como a Fifa. Por causa disso, o Reino Unido desistiu do futebol nas olimpíadas e somente em 2012 na Olimpíada de Londres os britânicos voltarão a ter uma seleção unificada.
Anos 20 – A consagração da Celeste Olímpica
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Uruguai, ouro em 1924: a primeira revolução do futebol |
O velho continente pensava que a seleção do Rio da Prata era formada por apenas meros “malabaristas” e que derrotá-los seria uma brincadeira. Se enganaram.
Os donos da casa sentiram essa força ao serem goleados por 5 x 1 pelas quartas de final.
O impacto que os uruguaios deixaram na terra de Napoleão foi tão grande que os franceses passaram a copiar o estilo uruguaio de jogar a partir dali. Ao longo da história, os “le bleus” aprenderam bem a lição de casa conquistando títulos com um estilo ofensivo e bastante técnico. Inclusive sendo conhecidos como a seleção mais “sul-americana” na Europa. O Uruguai venceu facilmente a Suíça na final por 3 x 0 e ganhou medalha de ouro, deixando uma legião de fãs e admiradores no mundo inteiro.
Em 1928 em Amsterdã o time de “manco” Castro, Nasassi e Leandro Andrade, Cea e Scarone tinham um adversário à altura: os seus vizinhos argentinos. Na estréia A Argentina goleou impiedosamente os EUA por 11 x 2, a Bélgica por 6 a 3 e o Egito por 6 x 0. Os sul americanos passearam em gramados holandeses. O Uruguai venceu a Holanda por 2 x 0 e a Alemanha por 4 x 1. Na semifinal venceu a Itália num jogo duríssimo por 3 x 2. Os dois times da América do Sul fariam a final da Olimpíada e como se esperava,o jogo foi equilibrado e acabou empatado em 1 x 1. Naquela época não existia prorrogação e pênaltis e foi marcado um jogo extra 3 dias mais tarde. Em outra partida muito bem disputada o Uruguai venceu por 2 x 1 e faturou a sua segunda medalha de ouro consecutiva. Nascia a “Celeste Olímpica”, apelido que a seleção uruguaia ostenta até os dias de hoje.
Dois anos mais tarde argentinos e uruguaios fariam a final da primeira Copa do Mundo realizada no Uruguai e com a vitória da seleção celeste. Se contarmos o título mundial de 50, são quatro conquistas internacionais importantes que os uruguaios consideram como quatro títulos mundiais. O atual escudo da Associação Uruguaia de Futebol tem quatro estrelas acima do distintivo, o que prova a devoção e a paixão que as seleções olímpicas de 1924 e 1928 deixaram no país. Somente em 2004 (77 anos mais tarde) uma seleção sul americana conseguiu um ouro olímpico. Por coincidência, uma final sul-americana entre Argentina e Paraguai. Finalmente os argentinos faturaram o ouro com uma magra vitória de 1 x 0. Em 2012, depois de oitenta e oito anos, o Uruguai volta a disputar uma medalha olímpica em Londres
No começo dos anos 30 até o final da “guerra fria” entre Estados Unidos e União Soviética o esporte se transformou radicalmente. O espírito de competição amistosa celebrado pelo Barão de Cobertin passou a ser usado como massa de manobra e propaganda política. A partir desse momento a modalidade do futebol nas Olimpíadas traçou uma linha paralela de outras competições oficiais da Fifa. O engradecimento da Copa do Mundo e a falta de interesse da entidade em fortalecer o torneio olímpico também contribuíram para que o futebol nas Olimpíadas se tornasse menos glamouroso com o passar do tempo. Nem por isso, grandes esquadrões deixaram de ser formados. Pelo contrário. Muitos campeões olímpicos desse período formaram grandes seleções e se destacaram em Copas do Mundo.
1936 – O domínio da Azzurra
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Itália: campeã olímpica e mundial durante o fascismo |
1952 – 1980 – A Era da Cortina de Ferro
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URSS, ouro em 1956: Domínio socialista |
Para os países ocidentais era difícil rivalizar com o “amadorismo” das seleções da cortina de ferro, já que nessas nações não existia o profissionalismo. No futebol pelas regras do COI, somente atletas amadores poderiam disputar um torneio olímpico. Para os países comunistas era uma barbada, pois os seus atletas apesar de considerados “amadores” eram experientes e disputavam os principais campeonatos nacionais e torneios continentais pelos seus clubes, muitas vezes financiados pelos governos socialistas da Europa. Em contrapartida os países ocidentais traziam jogadores jovens e inexperientes para a disputa, pois além do desinteresse dos clubes em ceder seus atletas para uma disputa olímpica, as regras do COI deixaram tradicionais seleções como Brasil, Itália e Alemanha de mãos atadas.
O que se viu nesse período foi um domínio absoluto dos países do leste europeu no futebol olímpico de 1952 até 1980. Uma contradição já que em Copas do Mundo com atletas profissionais, os países da cortina de ferro só chegaram ao máximo a duas finais de um Mundial (Hungria – 1954 e Thecoslováquia em 1962). Formou-se um elo contraditório no mundo do futebol, o que contribuiu e muito para o enfraquecimento da modalidade nos jogos olímpicos. A era da cortina de ferro acabou em 1984 com o boicote comunista nas Olimpíadas de Los Angeles e a medalha de ouro vencida pela França. Em 1988 a União Soviética venceu a final, mas foi o último suspiro. Com o fim da União Soviética em 1991 as novas regras do COI, os países ocidentais retomaram o domínio do futebol nas Olimpíadas. Apesar disso, algumas seleções campeãs olímpicas deixaram seu lugar na história do esporte mais popular do mundo.
Hungria – 1952
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Hungria de 1952: "O time de ouro" |
Polônia – 1972
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Ouro em Munique: cartão de visitas de Lato e cia. |
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A extinta Alemanha Oriental: Ouro em 1976 |
Lista dos campeões olímpicos de futebol da era da cortina de ferro
1952 – Hungria
1956 – URSS
1960 – Iugoslávia
1964 – Hungria
1968 – Hungria
1972 – Polônia
1976 – Alemanha Oriental
1980 – Thecoslováquia
1988- URSS
1984 – O ouro é francês
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França: Primeira campeã fora da cortina de ferro depois de 36 anos |
Os “Le Bleus”, mais tranquilos e menos deslumbrados venceram o time brasileiro por 2 x 0, que tinha entre seus jogadores um certo Dunga, que mais tarde viria a ser o capitão da seleção brasileira no título mundial de 1994 e o treinador do Brasil nas olimpíadas de Pequim em 2008.
1992 – 2000 – A vez da Fúria e a curta “era africana”
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Espanha de Guardiola: Ouro em 1992 |
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Nigéria em 1996: A consagração africana |
Com o tempo surgiu boatos de que essas seleções adulteravam a idade dos seus atletas nas competições de categorias inferiores, incluindo a Olimpíada. Coincidência ou não a Nigéria ganhou a medalha de ouro em Atlanta em 1996, após uma virada sensacional contra o Brasil na semifinal. Na disputa da medalha de ouro os africanos venceram a Argentina por 3 x 2 num jogo polêmico. A partida estava empatada em 2 x 2 e tudo indicava que a peleja iria para a prorrogação. Mas após um levantamento na área dos africanos, os argentinos resolveram fazer a chamada “linha burra” e deixar o atacante Amunike em impedimento. Mas o árbitro da partida não assinalou nada e o lance continuou com um gol aos 45 minutos do segundo tempo adiando o sonho do ouro olímpico portenho.
Novas regras foram estabelecidas na modalidade em Atlanta. Três jogadores de cada seleção com mais de 23 anos poderiam jogar nas olimpíadas. Inclusive, os que já participaram de Copas do Mundo. Sem dúvida um estímulo ao esporte que seguia bastante esvaziado com a ausência de grandes craques. Apesar da resistência da Fifa que tinha Copa do Mundo como grande xodó e temia o sucesso do torneio olímpico, as novas regras foram bem aceitas.
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Camarões em 2000: A soberania |
Coincidência ou não, com a nova lei da Fifa sobre o registro de jogadores, o domínio africano desapareceu tanto nas categorias inferiores como nas Olimpíadas. Em 2004 , Tunísia e Gana não passaram nem da primeira fase e a seleção de Mali perdeu da fraca seleção italiana por 1 x 0 nas quartas.
2004 – 2008 – Domínio Hermano
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Argentina: Primeiro ouro depois de 52 anos |
A campanha em terras gregas foi arrasadora. Começou com uma goleada sobre a Sérvia e Montenegro por 6 x 0, vitórias sobre Tunísia e Austrália e novas goleadas contra Costa Rica e a Itália na semifinal. Apesar da vitória magra contra o Paraguai por 1 x 0. O primeiro ouro argentino em Olimpíadas depois de quase 52 anos foi uma barbada.
Com Messi a Argentina fatura o segundo ouro: domínio platino
Quatro anos mais tarde dirigidos pelo técnico Sergio Batista, a Argentina repetiu a campanha vitoriosa na China. Com um trio formado Messi, Aguero e Di Maria, os portenhos mais uma vez não tomaram conhecimento de seus adversários. Eles passearam novamente na primeira fase e somente encontraram alguma resistência nas quartas de final contra a Holanda. Na semifinal contra o seu arquirrival Brasil todos esperavam uma partida complicada, mas não foi o que aconteceu. Os argentinos fizeram uma grande partida na semifinal e humilharam a seleção brasileira com estrondosos 3 x 0. Na final uma vitória magra e ainda por cima a devolução da derrota de 1996 contra a Nigéria por 1 x 0. A Argentina repetiu o feito do Uruguai com duas medalhas de ouro consecutivas. Finalmente, um domínio técnico depois de anos de picaretagens e artimanhas políticas.
1996 -2008 – A vez das mulheres e a supremacia americana
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Supremacia Americana: Três ouros |
Em 1996 os Estados Unidos conseguiram o ouro lideradas pela meia Mia Hamm com uma vitória sobre a China por 2 x 1.
Em 2000 nas Olimpíadas de Sydney o sonho do bi americano foi interrompido por uma derrota contra a Noruega por 3 x 2 num jogo emocionante.
Em Atenas 2004 as estadunidenses foram para a sua terceira final olímpica seguida contra o Brasil de Marta, considerada uma das melhores jogadoras de futebol de todos os tempos.
As americanas conseguiram novamente o ouro graças a uma atuação medonha de vergonhosa da árbitra Jenny Palmqvist. O Brasil foi melhor, mas pecou pela inexperiência e falta de apoio de sua entidade.
Em 2008 em Pequim, americanas e brasileiras repetiram a final de Atenas, e novamente os Estados Unidos derrotaram o time de Marta por 1 x 0.
Três ouros e uma prata. Um domínio completo da modalidade das estadunidenses até agora.
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Brasil: Apesar de 2 pratas, falta apoio |
O futebol passou por muitas mudanças durante quase um século. Mesmo com uma história paralela ao Mundial da Fifa e outros torneio internacionais, o torneio olímpico de futebol foi e continuará sendo uma fábrica de heróis e vilões, de disputas históricas e emocionantes. De vencedores que nunca serão campeões do mundo e de vencidos que se consagrarão. Daqui há algumas semanas, mais um capítulo dessa centenárias história, muito mais velha do que a Copa do Mundo será escrita. Que venha Londres 2012.
Marcelo Abdul é parceiro deste espaço.
Engraçado Abdul, é que o amplo dominio do futebol "amador" é quase total dos países do leste europeu. Só falta o Brasil pra galeria de campeões ficar completa!
ResponderExcluirTentei postar no blog do Abdul, mas naum consegui, pq?
ResponderExcluirSandro JC99
Tenta de novo Sandro, as vezes o wordpress dá uma empacada. Mas é bem melhor que a minha plataforma, em breve terei novidades. Prestigia o blog dele. Vlew, visita também o blog do Lina, é mais extremista (kkkkkkk) mas é bem legal!
Excluirlegal, tem muita coisa que eu naum sabia.
ResponderExcluirvlew cara
Valeu Guina por republicar o post. Tem muitas passagens interessantes na história desse torneio.
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