segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A REORGANIZAÇÃO DA SUA TORCIDA


As torcidas organizadas e a violência expressiva
Por Antonio Oliveira


Até o início da década de 1990, no Brasil – e, até mais recentemente, na Bahia -, os amantes do futebol podiam orgulhar-se da convivência pacífica entre os torcedores, sobretudo quando comparado ao que acontecia no exterior.

Todavia, parece que as divertidas e inofensivas provocações verbais (quem não gosta de ouvir palavrões nem de ver gestos obscenos lançados contra os rivais, não deveria ir ao estádio), que dão aos torcedores motivos a mais para irem aos estádios, estão cedendo espaço à agressão física que não pode ser associada aos resultados obtidos pelos times no campo. Se a violência fosse fruto de tais resultados, apesar de absolutamente condenável, ela seria um pouco mais compreensível, mas ela parece estar vinculada a algo mais complexo: uma forma de expressão de indivíduos e grupos de jovens.

Mas, expressão de quê? Ninguém pode responder a isso com segurança, porque a violência expressiva, ao contrário da instrumental, não tem objeto e objetivo definidos pelos agentes de modo inequívoco e permanente; se pode indicar algum objetivo mais duradouro da violência expressiva, esse seria o de ir além de sua experiência cotidiana, o que torna o problema mais complicado para ser resolvido, pois o que pode ser percebido pelos jovens como algo capaz de interromper a monotonia de seu dia-a-dia é muito variável.

Na Bahia, o caso de um torcedor baleado (no BaVi , em 25.04/2010) é uma evidência de que não se está diante de uma briga entre torcedores por causa do resultado de uma partida. O deplorável incidente tem características de acertos de contas por razões outras, que nada tem a ver com o jogo de futebol em si, mas, sim, com a afirmação da identidade – construir e/ou manter a fama de “bad boy” -; com as disputas de “galeras” em bairros ou entre bairros; e com, sublinhe-se, o confronto pelo confronto.

Se a minha interpretação for pertinente, as autoridades públicas pouco podem fazer para resolver esse problema, como o atesta o fracasso das medidas que deveriam por fim às brigas entre os torcedores na Europa e, mais recentemente, em São Paulo. Quem de fato acredita que o fim das torcidas organizadas seria a solução? Apesar de medidas como essas terem sido tomadas na Europa, desde o início dos anos de 1980, quem não se lembra da Copa de 1998, quando a violência de alguns torcedores provocou uma situação desconfortável entre os governos alemão e francês?.

Na Europa como em São Paulo, as autoridades apenas conseguiram, e nem sempre, coibir os atritos dentro dos estádios. Mas, no dia da partida, os jovens dispõem da cidade inteira para expressar-se através da agressão física e de outras incivilidades, e o que menos importa para eles, no jogo da violência nas ruas, é o resultado do jogo que se desenrola no campo.

A sociedade alimenta a concepção de que o comportamento violento é sempre o produto de algum distúrbio psíquico ou de problemas socio-econômicos, e essa concepção é um entrave à compreensão do que acontece com os jovens que se digladiam nas ruas pelo que isso tem de sedutor aos olhos deles, ou seja, é hora de admitir-se que a ação violenta pode ser lúdica, atraente e sedutora em si mesma, e que algumas pessoas a ela se dedicam só por causa disso.

As estratégias e táticas policiais para conterem multidões e indivíduos/grupos agressivos devem ser adotadas, pois elas asseguram a tranqüilidade de outros torcedores dentro dos estádios e nas proximidades, mas elas não têm como lidar com os que querem confrontar-se entre si, não por causa de seus times, mas por razões de transcendência, a qual pode ser atingida pela agressão física, pela quebra das regras do jogo civilizado entre as pessoas, pela depredação de bens públicos e privados.

O desafio, portanto, é pensar o comportamento violento dos torcedores sob essa ótica, a da sedução, para que se possa enfrentar um desafio ainda maior: como solucionar essa questão.

Antonio Pereira, é torcedor do Bahia.





NOTA DO BLOG: Os incidentes ocorridos ontem, antes, durante e depois do jogo Corinthians e Santos no Pacaembu, me levaram a postar sobre esse assunto que divide opiniões e afasta muitas famílias dos estádios brasileiros. Podemos encarar os fatos com visões diferentes, mas não podemos esconder que as confusões envolvendo os “organizados” estão extrapolando os limites. Os torcedores brigaram entre si, enfrentaram a polícia (que, diga-se de passagem, não tem a miníma condição de lidar com tumultos) e tentaram invadir o vestiário ao fim do jogo, para “cobrar” o técnico corintiano. O que mais me assusta é ver declarações, como a do Dr. Osmar de Oliveira no programa Jogo Aberto de hoje, de que os “organizados” não invadiram o vestiário, apenas “estavam lá”! Algo tem de mudar, tais cobranças não fazem sentido, pois o Corinthians faz um bom campeonato (está na 3ª posição), e lembrem-se de que existem outros 19 times, e perder faz parte do jogo. E hoje o Santos é muito melhor! O que vocês acham das organizadas? Esse dilema não é um problema local?

6 comentários:

  1. o guina sem a organizada naum tem festa. vc sabe muito bm disso. po uma semana sumido. q acontecu?

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  2. AE GUINA, DEMORÔ. O QUE EU FIKEI SABENO DOS MALUCO E QUE A JOVEM E A SANGUE BRIGARAM POR MOTIVOS POLITICOS.
    JA FUI DA JOVEM, MAS SAI POR DIVERGENCIAS INTERNAS. AGORA TO ME MECHENO COM A GALERA DO IMIRIM E DE MONGAGUA PRA FUNDAR UMA OUTRA.

    BY SANDRO JC 99

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  3. Oi Guina. O lance das torcidas ornanizadas é uma situação complexa. Bem diferente do que fazem crer as autoridades. Proibir não adianta nada. Punir as torcidas tratando-as como um CNPJ também não resolve.

    O caso dos brigões santistas é um exemplo. Qual deles foi preso e responsabilizado pelo incidente no Pacaembu? De que adianta as câmeras e todos os caros apetrechos de identificação da polícia militar se a policia não leva ninguém em cana?

    Em época da Copa em 2014 o Brasil vai receber Barras Bravas, Hooligans e diversos torcedores de vários países. Cadê uma legislação que proiba esses animais de frequentarem as arquibancadas?

    O problema é que briga de torcida em estádio de futebol não dá cadeia pra ninguém.

    E Copa do Mundo tem uma puta visibilidade mundial. Imagine os terroristas da Al Qaida vendo essa desorganização. Vai ser um prato cheio pra eles planejarem um atentado.

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  4. Henrique,
    estive trabalhando muito. Vlew pela força ao blog.
    Abçc..

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  5. Sandro, Tô trabalhando demais... Se vc vai fundar uma torcida, que seja para apoiar o seu time, vlew?

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  6. Abdul, também acho que proibir não resolverá o problema. A idéia do post é criar uma discussão ampla que colocaria a organização do futebol mais além das organizadas. É um primeiro passo, e em época de copa no Brasil deveria ser colocada em pauta em todos os blogs de esportes. Mas tem jeito parceiro! Só falta vontade politica.

    Qto. a AL Qaeda, acho que o Brasil, por sua "cultura não definida", não seria um alvo politicamente acertado.
    Abçs..

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